Trabalho

Decisão

Decisão

A boa aparência ainda é um critério utilizado para a contratação de pessoas no mercado de trabalho. Vez ou outra tomamos conhecimento, via redes sociais e outros meios de comunicação, sobre casos de discriminação sofridos por crespas e cacheadas em processos seletivos.

Essa é uma realidade a ser encarada.

Quando se trata de trabalho, diversas outras questões entram em jogo. Particularmente, as necessidades financeiras, porque por mais que a gente ame trabalhar, também fazemos porque precisamos pagar as contas, morar, comer, planejar o futuro, financiar os estudos, etc.

Seria muito fácil para nós chegar aqui e dizer: “joga tudo para o alto amiga, a sua satisfação pessoal deve vir em primeiro lugar”.

Não é bem assim.

A transição já é um processo suficientemente difícil para ser intensificado por outros problemas.

Então, você precisa ter paciência e sabedoria para saber lidar com as adversidades que ela pode gerar no seu ambiente profissional.

Além disso, já há no mercado de trabalho empresas que não discriminam os seus trabalhadores pela aparência. Muitos inclusive por já saberem que essa é uma prática que fere os direitos das pessoas.

Há também aquelas empresas que valorizam a diversidade e entendem que a melhor aparência é a da pessoa que se ama e se aceita do jeitinho que é.

Planejando-se a longo prazo, você pode tentar trocar de empresa, para não passar por constrangimentos. O que você não pode é deixar de optar pela transição porque há no mundo pessoas físicas e jurídicas que não são capazes de respeitar as diferenças.

A professora Ana P. contou para nós que já sofreu diferentes tipos de constrangimento por assumir o crespo no ambiente de trabalho, uma dessas experiências, ela nos relatou com detalhes:

“Por volta dos vinte anos trabalhei numa pizzaria bacana da minha cidade. Era operadora de caixa e tinha uma certa obrigação de estar sempre bem arrumada. Na época eu fazia relaxamento sempre que a raiz mais crespa começava a se mostrar, e escovava o cabelo com muita frequência. Ainda tinha cachos, bem soltos, mas tinha. Um dia, resolvi ir trabalhar com o cabelo natural e solto. Ele sempre foi volumoso, mesmo com o relaxante. Não havia problema em fazer isso porque eu não lidava diretamente com os alimentos. Como o meu patrão na época não podia me reprender por qualquer questão “sanitária”, ele me constrangeu com a seguinte pergunta: “Hoje você resolveu soltar essa gafurina?”. A “gafurina” no caso era o meu cabelo. Ele disse isso de uma forma muito pejorativa, fiquei bastante chateada, pouco tempo depois, mesmo sem ter nada certo em vista não aguentei e pedi as contas. Foi um período difícil porque fiquei bastante tempo desempregada. Porém, foi um primeiro passo para a transformação, dali uns meses, eu iniciei a transição”.

O depoimento da professora Ana P. mostra para a gente o tipo de implicação que pode ter esse tipo de experiência no ambiente de trabalho. O comentário do patrão feriu a sua
identidade, como se fosse algo a ter vergonha, algo que precisasse ser escondido.

A grande questão é que ela conta que por ter pedido as contas num impulso, sem ter nada em vista, acabou ficando desempregada por muito mais tempo do que imaginou.

Nem ela, nem nós queremos que você chegue a passar por isso.
Diante de questões como essas precisamos ter sensibilidade, não podemos nos cobrar excessivamente.

Mesmo que a situação seja extremamente difícil, devemos tentar refletir profundamente e com clareza sobre o que tudo isso significa.

Não podemos permitir que os sentimentos negativos nos invadam.

Então, em primeiro lugar tenha em mente que não é possível mudar os outros, não de uma hora para outra. Mas é possível mudar a si mesma e encontrar uma maneira de mostrar que textura capilar não define competência, muito menos comprometimento profissional.

Se o ambiente é insuportável, planeje-se antes de tomar outro rumo. Por mais urgente que seja o seu bem-estar, não tome decisões precipitadas, porque isso pode piorar as coisas a longo prazo.

Uma forma de lidar com esse tipo de situação é acreditar que ninguém te define, que as questões do trabalho devem ficar lá e que a sua saúde mental, a sua autoestima, o seu bem-estar são precisos.