Eu

Decisão

Eu

Pensar em si mesmo não é necessariamente “ser egoísta”. Falando em ego, claro que devemos tomar cuidado para não o inflar demais, mas também não devemos abandoná-lo à própria sorte. Quando não é bem cuidado, o ego vira uma parte revoltada do nosso “eu”, que nos pune, nos tortura.

A transição capilar é um processo muito particular. Digamos que seja uma experiência “pessoal e intransferível”. Ninguém poderá passá-la por você, ninguém poderá viver as dificuldades no seu lugar, da mesma maneira que ninguém poderá sentir a satisfação de se olhar no espelho e se reconhecer da maneira que você sentirá.
Não é possível estar bem com o mundo estando mal consigo mesma. Pensando por esse lado, colocar-se em primeiro lugar é algo fundamental.

Especialmente porque quando os comentários maldosos vierem, quando o preconceito bater a sua porta, quando alguém tentar desmerecer a sua coragem de se assumir isso não te afligirá porque você conhece o seu processo e acima de tudo confia em si mesma.

Assim, faz sentido pensarmos no que literalmente significa “autoestima”. Nada mais é que um sentimento de apreço que você tem por si mesma.

Claro que, quando procuramos gostar de nós mesmas, depois de passar anos escravizadas por um ego malcriado, que se deixou construir pelas influências negativas dos preconceitos, costumamos sentir não somos merecedoras daquele amor-próprio.

Não caia nessa, não se boicote.

Todas nós temos defeitos. Olhar para eles não pode ser algo paralisante. Quando o ego trouxer os seus defeitos para o centro dos seus pensamentos, procure vê-los com carinho.

Pense que se você não se amar, esses defeitos não serão corrigidos.

E lembre-se sempre que o seu cabelo, a sua aparência, mesmo que você tenha optado um dia por não os mostrar como realmente são, de modo algum fazem parte desses defeitos.

Achamos importante deixar isso muito esclarecido, porque em razão da determinação de um padrão único de beleza, que é socialmente imposto, a gente corre o risco de acreditar que, se não nos enquadramos nele, nós é que somos defeituosas.

Para te mostrar o quanto isso é real trazemos o depoimento da atriz Thammy F., que tem tudo a ver com o que estamos falando:

 

 

“Me reconhecer negra, o <Strong>cabelo</Strong> foi consequência desse reconhecimento, mas me lembro que foi uma dificuldade grande enxergar a beleza do meu cabelo afro, aliás até hoje penso sobre isso, por exemplo quando eu não consigo ajeitá-lo (risos)”.

Essa pessoa querida que é a Thammy F., via o cabelo afro como um defeito, mas isso não é por culpa dela, mas porque aprendeu que o seu cabelo cacheado era motivo de vergonha.

Não podemos entrar nessa de acreditar que nós é que estamos erradas pela discriminação que sofremos. Não é nossa culpa que no mundo há pessoas que não respeitam as outras, que não reconhece o fato de reproduzirem algo que também as oprime.

Precisamos olhar para o mundo com compaixão e empatia. Isso não quer dizer que devemos ouvir desaforos como comentários preconceituosos e aguentar isso caladas.

Mas a reação precisa ser baseada na sabedoria. É preciso mostrar que não jogamos o jogo da mediocridade. Que somos bem melhores que isso.

Para isso, se torna essencial saber que quando a pessoa aponta algo que ela não gosta no seu corpo ou não sua aparência, ela está falando dela mesma, mostrando o quanto a sua maneira de se relacionar é contaminada pela discriminação. Deixe isso com a pessoa, porque é a ela que pertence.

Agora, é você quem vai protagonizar o seu caminho. A decisão de transacionar da química para o cabelo natural é só sua, de mais ninguém.

O primeiro passo para trilhar essa nova direção é se amar e se respeitar, em primeiro lugar e acima de qualquer coisa.