Identidade racial consolidada

Descoberta

Identidade racial consolidada

 

Conversamos sobre identidade com a Evy O. Ela que é negra, nascida na Bahia, e extremamente politizada. Ela nos contou que embora tenha usado químicas, nunca teve vergonha de sua cor, nem sua identidade, por mais que tenha passado e ainda passe por diversos episódios de racismo.

Foram outras circunstâncias que a fizeram usar relaxantes e transicionar o cabelo mais de uma vez.

Eu passei por uma primeira transição sem querer, após o falecimento de minha mãe, aos nove anos de idade. A minha tia falou que o meu cabelo estava muito quebrado e tal e então eu cortei no estilo joãozinho como a gente fala lá em Salvador, bem pequeninho mesmo, praticamente raspado. E depois o meu cabelo foi crescendo natural. A gente não tinha dinheiro para colocar química novamente, eu vivia com o cabelo cheio de grampo pra tentar abaixar ao máximo. O meu apelido na escola era capacete por conta do cabelo natural Black Power”.

 

Com a sua história, a Evy nos prova que podem ser vários os motivos para que alguém passe a usar químicas. Além de deixar claro que apesar de os nossos processos serem semelhantes, cada caso tem os seus percalços particulares.

O enfrentamento ao preconceito se torna mais forte quando a pessoa tem consciência de sua identidade étnica.

No caso da pesquisadora e escritora Ana A., por exemplo, já não houve uma educação racial desde a infância.

Ela somente se reconheceu de fato como pessoa negra na vida adulta. Passou por diversos processos de transição sem compreender exatamente o que significavam:

 

“Depois de um tempo alisando os cabelos comecei a me sentir muito mal. Tinha fortes crises de identidade por não me reconhecer. Só na última transição é que pude externar o quanto todos aqueles processos tinham relação com a minha raça, que eu não aceitava quando criança, adolescente e até mesmo depois de me tornar uma mulher adulta. Hoje os meus cabelos, que ficaram bem curtos, já cresceram e estão muito mais bonitos. Tenho orgulho de andar com os meus cachos bem armados, com o cabelo solto ou preso de forma criativa. Não ligo para o que os outros pensam. Para mim o importante é ser quem eu sou. Se as pessoas se incomodarem com isso, o problema não é meu, é delas”.

 

 

A identidade racial não é uma exclusividade dos negros. São diversas etnias e raças que compõem a população e as culturas brasileiras.

Pessoas brancas de cabelos crespos ou cacheados talvez sofram preconceito porque essa característica pode ser entendida como fator de miscigenação.

Porém, é muito importante lembrar que etnias brancas também contam com o crespo e o cacho como características.

Por mais que não sofram com o racismo que as pessoas negras ou não-brancas sofrem, também podem se posicionar neste enfrentamento, em favor da afirmação de sua identidade.

Uma das pessoas com quem conversamos, a estudante de Relações Internacionais Adriana R, nos disse que chegou a sofrer preconceito por parte dos colegas de escola, que a chamavam de “cabelo de esponja”.

Mesmo sendo uma pessoa branca e não sofrendo racismo, essas experiências a marcaram a ponto de serem lembradas hoje como algo negativo que ela vivenciou.

Foi só depois de perceber que a química não fazia sentido nenhum em sua vida, que ela aprendeu a se afirmar como uma cacheada e a valorizar sua beleza.